quarta-feira, 1 de outubro de 2008

"a queda da laranja provocará o poema?"

a Lara começa agora a questionar-se acerca de assuntos que lhe eram desconhecidos. de onde vêm os nomes das coisas? se lhes mudarmos o nome as coisas deixam de existir? o nome é a própria essência das coisas? quem os inventa?
a natureza rege-se por relações de causa-efeito?

[si Lara fuera una menina española seguro que su historia tendría que ver con la búsqueda de su media naranja... :) ]


"A questão

O senhor Henry disse: se a laranja viesse d euma árvore chamada macieira, à laranja teria de se chamar maçã ou era à macieira que teria de se chamar laranjeira?"

Gonçalo M. Tavares, O Senhor Henry


"[...]
A noite cerca a mão inteligente do homem que possui uma cabeça transparente.
Em redor dele chove.
Podemos adivinhar uma chuva espessa, negra, plúmbea.
Depois, o homem abre a mão, uma laranja surge, esvoaça.
As cidades (como em todos os livros que li) ardem. Incêndios que destroem o último coração do sonho.
Mas aquele que se veste com a pele porosa da sua própria escrita olha, absorto, a laranja.

A queda da laranja provocará o poema?
A laranja é, ou não é, uma laranja imaginada por um louco?
E um louco, saberá o que é uma laranja?
E se a laranja cair? E o poema? E o poema com uma laranja a cair?
E o poema em forma de laranja?
E se eu comer a laranja, estarei a devorar o poema? A ficar louco?
E a palavra laranja existirá sem a laranja?
E a laranja voará sem a palavra laranja?
E se a laranja se iluminar a partir do seu centro, do seu gomo mais secreto, e alguém a esquecer no meio da noite - servirá o brilho da laranja para iluminar as cidades há muito mortas? E se a laranja se deslocar no espaço
- mais depressa que o pensamento, e muito mais devagar que a laranja escrita
- criará uma ordem ou um caos?
[...]

AL BERTO

Um comentário:

tulisses disse...

pronto, al berto e wordsong, tinha de escrever alguma coisa... nem que fosse apenas isto. e, já agora, gostei muito da menina.

bjs